O meu calcanhar infantil de Aquiles




O nome Iago deriva do latim Iacobus, que por sua vez é uma latinização do nome hebreu Ya'akov (יעקב) ou Jacó, que significa literalmente calcanhar. (Fonte: Wikipédia).

Eu estava na 2ª série do 1° grau, era aquele guri “zé ruela” que todos os guris conhecem como o “último jogador a ser escolhido no futebol”, e as gurias simplesmente não conhecem. Esse era eu, um guri branquinho como leite e com um cabelo preto no melhor estilo Paulo Nunes.
Em toda a turma de colégio, sempre tem as figuras clássicas como o Alemão, o Gordo, o Negão, o bichinha, o palhaço e o brigão gigante que já rodou várias vezes. O nome do brigão era Iago Hermann, seu nome significa calcanhar, porque ele sempre pegava no meu pé (abaixo dos calcanhares).
Iago Hermann é tipo do guri que primeiro bate e depois pergunta e se tu errar a respota, apanha de novo. Como eu não era (e nem sou) bobo, me mantinha o mais longe possível do meu querido colega, mas esse tipo de pessoa precisa mostrar sua força nos mais fracos, rejeitados e perdidos. No caso específico, eu. Os tapas e bolinhas de papel sempre sobravam na minha cabeça, as piadas sempre sobravam pra mim e as piores notas sempre sobravam pra mim (tudo bem, não é culpa dele).
Eis que um dia, eu estava no banheiro escovando os dentes com uma escova que era metade verde e metade rosa. Uma escova que minha mãe comprou por engano e que poderia ter acabado com a minha 2ª série. Escovava os dentes o mais rápido possível para poder sair correndo do banheiro, mas como tudo na vida, as coisas saíram errado. Iago entrou com veneno entre os dentes, enquanto nos meus só tinha pasta de dente mesmo, mas a pasta entre os meus dentes congelou, assim como o resto do meu corpo.
-Mas que escova de bichinhas é essa? – Disse ele com um sorriso de deboche.
Era frio, me lembro que naquele ano nevou no pátio da escola. Tudo estava ao meu favor e a favor das minhas mentiras mirabolantes.
-É uma escova que fica rosa no frio e azul no calor, meu irmão trouxe dos Estados Unidos. – Disse eu em tom bem tranqüilo, sabendo que eu não tinha nem irmão e que os Estados Unidos era uma realidade completamente distante.
-É mesmo? Mas que massa!
Saí do banheiro como um guerreiro que acabara de derrotar um exército inteiro. Me sentia o homem (era um guri, mas na hora me senti um HOMEM) mais forte do mundo, Aquiles sem o seu calcanhar. Eu sobrevivia a mais um dia no terrível mundo do colégio, um mundo que me arrepia até hoje, mas me tornou mais forte.
Hoje enfrento “Iagos” todos os dias e continuo fazendo eles de bobos, é a lei da selva. Quem não tem cachorro, caça com uma HK47.

ps.: Iago, se por um acaso tu ler esse post... foi mal ae véio huahuahuhauah.

2 comentários:

Felipe Leduino

Quem não tem cachorro, caça com 47? Se a tua mãe te pega escrevendo isso, tu apanha, ô almofadinha! hehehehe

Ótimo texto, contador de histórias!
Treinando pra quando chegar os netos!

Grande abraço!

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